pois... o sentimento mantém-se, mas a envolvente passou a utópica =(
depois do verão e das ferias os comboios, pela manhã, têm tudo menos espaço e cantos confortáveis (ou sequer cantinhos moderadamente fixes). não há lugar para sentar e as aproximadamente 8 paginas de livro que lia na ida raramente (senão nunca) são percorridas (a não ser que consiga sentar-me nas escadas do comboio que dão para o piso de cima).
também a habitual paisagem verde ou ás cores junto das janelas já só espreito por pequenas e breves frestas entre os ombros, pernas e braços dos demais.
quanto a caras familiares, guardo-as na memoria. provavelmente até estão perto mas, no meio dos encontrões e amassos, não as encontro. revejo-as só em pensamento, enquanto tento desconcentrar-me de toda aquela confusão e cheiro a suor.
e depois as causas associadas a toda esta miscelânea são sempre interessantes: ou algo se soltou no percurso de ferro, ou um incêndio qualquer deflagrou numa carruagem qualquer de um comboio qualquer, ou não há comboios suficientes, ou a bengala de uma velhinha caiu na linha, ou uma série de outras coisas.
e depois ora vejo no ecrã que o comboio está atrasado; ora nem sequer consigo entrar no comboio; ora estou sossegadinha (salvo seja) já dentro da carruagem e no meu cantinho moderadamente aceitável, quando a voz holandesa do comboio começa a falar coisas que penso serem as típicas informações diárias. lá continuo, ingénua, depois da voz se calar. contudo, no entretanto da coisa, dou-me conta de todos a levantarem-se e a sairem na estação que ainda não é a minha.
"oh pah! qual é a de hoje?".
saio também, pergunto o que se passa, alguém me conta a história e eu lá entro em modo de indecisão: será que espero (um século) pelo próximo comboio (cuja existência e identidade são uma incógnita) e junto-me à multidão que espera uma luz ao fundo do túnel em frente do painel de informação? ou desisto da espera e vou apanhar o eléctrico que, como devem imaginar, está igualmente cheio, com várias filas gigantes e desordenadas estacionadas na paragem?
apesar da esperança de um dia andar de eléctrico até delft numa destas situações de ansiedade matinal por chegar ao laboratório a horas de fazer as medidas da alvorada, a verdade é que, dadas as ditas filas, o eléctrico lá acaba por me sair da ideia e volto para a estação.
passados 30, 40 ou até 50 minutos de espera e de andar de um lado para o outro na estação consoante a vontade do painel (sim porque um mesmo comboio no meio deste enredo todo pode mudar 4 a 5 vezes a linha onde irá parar), o dito cujo lá acerta na linha definitiva.
desloco-me então para um cantinho desse comboio ainda mais pequeno e apertado, rumo a delft (ou rumo à próxima paragem onde farei escala).
se juntarmos a isto chuva, muita chuva, a coisa fica bastante mais complicada. grrrrrrr...
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3 comments:
Talvez seja o amargo despertar para os primeiros passos na vida professional num mundo que muda e se transforma rapidamente. As pessoas do quotidiano vão mudando sem ter dado contas para onde foram mas surjem outras que preenchem esse vazio espacial, mas não o cantinho da nossa memória.
Besito
PS: Gostei de ler... de uma inspiração invulgar.
pq n vais viver para perto do trabalho?
Bj. Tó
leiden 'e mais fixe que delft =)
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