...não é como o metro ou o autocarro. estes são frases soltas.
o comboio é mais como um livro, mas com algumas (talvez muitas) páginas em branco.
não existe trânsito nem inúmeras linhas a intercruzar-se. as mesmas viagens são mais esporádicas e uma paisagem verde ou ás cores passa rapidamente pelas janelas.
as pessoas chegam mesmo a sentir o relaxar dos corpos nos bancos e, se não estão a conversar, parecem olhar um horizonte.
as caras que aparecem são também familiares, consoante a situação da viagem.
à mesma hora as mesmas pessoas se dirigem todos os dias para a mesma posição na plataforma, aquela que mais lhes convém depois à saída. existe por exemplo a rapariga de fato de treino e mochila vermelha que se posiciona logo no início, junto à maquina de café; o rapaz com ar de nerd perto das escadas; e a gótica de cabelos pretos e compridos do outro lado da linha.
já dentro do comboio um punk de boné preto e barba comunista espera a primeira paragem, nunca chegando a sentar-se; um senhor de um louro esbranquiçado sempre com uma t-shirt de padrão oposto ao resto do fato adormece enquanto lê o jornal; e uma velhinha, que prefere o meio da carruagem e o lado da janela, procura olhares com quem sorrir.
em delft quase só rapazes acompanham a minha saída e também os que entram na mesma carruagem não são estranhos. Existe inclusive um rapaz ruivo e de pele sardenta que passa por mim a correr, chegando ofegante à plataforma sem nunca, contudo, perder o comboio.
e depois, já perto da minha bicicleta, as mesmas pessoas buscam as bicicletas perdidas no meio da multidão estacionada. deixo o local com muitos deles ainda à procura.
no caminho de volta o comboio está mais solitário e os encontros são mais raros, mas existe um malabarista de rastas que volta e meia lá escolhe as mesmas horas de saída do trabalho (ou das aulas) que eu.
e o que serei eu para eles?
talvez a rapariga do mp3... talvez ninguém.
não, não ninguém! pelo menos não para a velhinha que sorri. ela já não procura o meu olhar para me sorrir, apenas o espera, como se eu, depois de inúmeras viagens comuns, tivesse já de lho dar.
e qual será a história deles? preferirão chá ou café? passear junto ao canal ou jogar scrabble? estarão a viver uma história de amor ardente ou serão já rotineiros? gostarão de comida japonesa? e os inimigos como serão? e a cor favorita?
durante a viagem atribuo-lhes uma vida, certamente inadequada. imagino os seus trabalhos, o número de filhos, a decoração da casa e até os desportos radicais que praticam.
contudo, mesmo assim gostava de saber as suas verdadeiras histórias, as suas páginas... seriam a minha leitura matinal =)
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2 comments:
the train...
...is not like the subway or the bus. those are lost sentences.
the train is more like a book, but with some (maybe many) white pages.
there’s neither traffic nor several lines crossing each other. the same trips are not so often and a green or colored landscape rapidly passes along the windows.
people are even able to relax their bodies in the benches and, if they are not speaking with others, they seem to be looking to a horizon.
the faces are also familiar, according to the trip situation.
at the same time the same people go every day to the same position of the platform, the most convenient in their stop. for example, there is the sporty girl with the a red bag right in beginning of the platform, next to the coffee machine; the nerd boy near the stairs; and the gothic girl with a black and long hair on the other side of the line.
once inside the train, a punk with a black hat and communist bear waits at the door for the first stop; a man with a mixture between white and blond hair and always using a t-shirt completely opposite from its suit, fall asleep while reading the news paper; and an old lady, always in the middle of the carriage and next to the window, looks for eyes to smile with.
in delft almost only boys get out of the train with me, and also the ones who enter in the same carriage are not strange. it even exists a boy with red hair and freckles that always arrives running, without, though, ever losing the train.
and then, already near my bike, the same people look for their lost bikes in the middle of the huge crowd that is parked in the street. I leave the place with many of them still looking.
back to the train in the late afternoon, the carriages are more alone and the meetings are also rare, but there is a malabarist that once in a while chooses the same hours I do to go home.
then I find myself thinking: what am I to them?
maybe the mp3 girl… maybe no one.
no, not no one! at least not for the smiling lady. she no longer looks for my eyes to smile, she just waits for them, as I, after so many common trips, should look at her.
and what's their story? do they prefer coffee or tea? walk near the canal or play scrabble? are they living a passionaly love story or a routine? do they like japanese food? and their enemies, how are they? and their favorite color?
during my trip my imagination flies and I give them a life, must probably inadequate. I imagine their jobs, number of kids, house decoration, even the radical sports they practice.
However, I still wanted to know their real stories, their pages… it would be my morning reading =)
O comboio, tal como o metro permite olhar as pessoas, e imginar o que serão por dentro, que vida será a delas.
Gosto muito de andar de comboio, mas aqui, apenas de metro, o que já bem bom!
Diverte-te por aí!
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