Monday 30 June 2008

um adeus para ela...

era uma tarde de terça feira.

Eu, curiosamente, media 1m30 ainda.
Tinha acabado de chegar da escola e preparava-me para ir brincar (com o nenuco provavelmente).

O Nuno desliga o telefone.

- Inesita vamos ver cachorrinhos e escolher o nosso.

Eu pulei e corri para a porta.

A viagem foi curta. Não me recordo bem do sítio mas lembro-me de uma vivenda pequena e cor de tijolo, com um quintal à volta.
O dono tinha um ar pesado, barriga de cerveja e vestia uma daquelas camisas grossas de flanela. Na cabeça o chapeu cobria-lhe a calvicie, vendo-se apenas as patilhas, grandes e grisalhas, que se estendiam do pouco cabelo lateral.

Apresentou-nos a Bela, uma cadela branca e castanha, alta e de focinho longo. Estava rodeada pelas crias, sete acho.

O meu irmão, enquanto assistia ao futebol, só ficou com um dos cahorros ao colo, ou melhor, com uma deles. Toda ela era castanha mas de meias brancas. Mal via, mas os 18 dias de vida não a impediram de, engonçadamente, se mover em direcção ao Nuno, decidindo ali mesmo o seu destino.

Não eramos os únicos na sala a escolher, haviam uns 5 mais.

Eu, como criança que era, rodeei-me de 3 das crias assim que cheguei e adormeci-as nos braços. =p

A Bela, esguia e de olhos esbogalhados, estava exuasta da maternidade e doente de fraqueza, mas ainda assim não parou de vigiar as crias, nem por um segundo, movendo-se em constante tormento por todos os que as albergavam ao colo.

O homem, por outro lado, não se importava muito com os cachorros... eles estavam a levar a sua companheira de caça à exaustão. Se não fosse a esposa, daquelas avozinhas de avental, ele teria-os afogado à nascença.

- Por favor leve-me já o cão. - Pediu.

Não contava-mos ter de trazer a cachorrinha tão cedo e bebé para casa. Até leite tivemos de ir comprar para a "amamentar".

A minha mãe, que ainda não tinha dito o "Sim" final, foi apanhada de surpresa. Mas mal viu a Bruna, pouco maior que um palmo de mão, derreteu-se ao pega-la:

- A bichinha mal vê, é muito pequena ainda. Não vai resistir.

Mas resistiu, e ainda ontem, 14 anos depois, ao acordar, se moveu agilmente em direcção à cozinha para receber o biscoito matinal, como fazia todas as manhãs. =)

Tinha um olhar penetrante e era a nossa sombra se nos visse chorar, usando o focinho para desviar os nossos braços e chegar ao nosso rosto. Rosnava a quem se aproximasse do seu prato e pulava de felicidade quando nos ouvia chegar. Era daquelas que ladrava mas não mordia, a não ser quando alguem se sentava na poltrona, o cantinho dela. Ai sim ela ficava fula.

Não falava, mas era como se o fizesse cada vez que brincava ou saltava...
cada vez que abanava a cauda ou nos olhava profundamente...
cada vez que caçava moscas contra à janela ou corria atrás dos gatos...
cada vez que raspava na porta para a abrir ou saltava para a nossa cama durante a noite...
cada vez que mergulhava no mar ou fugia das ondas...
cada vez que sentava quando a mandavamos ou se encolhia quando fazia asneira...
cada vez que dava lambidelas de carinho ou que nos chamava com a patinha...
cada vez que adormecia aos nossos pés e se mechia ao sonhar...

A Bruna não era só a nossa cadelinha, ela era da casa, era da familia, é uma parte de nós... tal como nós dela.





- Inês, tem só alguns segundos. - Disse o veterinário antes de sair da sala.

Ela estava deitada, cansada, mas com o olhar mais profundo de sempre, como se soubesse. Agarrei-lhe na patinha e encostei o rosto ao focinho dela:

- Dorme bem Bruninha.











ps - english version in the comments. =)

e a música dela...

11 comments:

Manuel said...

não vou chorar, não vou chorar, não vou chorar.....

Lindíssimo! Fica a recordaçãode 14 anos de companhia! :-)

CAP CRÉUS said...

É pá, porra!
Não devia ter vindo aqui!
Estou com as lágrimas nos olhos, porque me estou a ver neste cenário daqui a uns tempos e porque estou a ler o Marley&EU.
Lamento!
Muito...

Lucy said...

Lamento muito a tua perda miga... Mesmo muito... Bem, mas temos que pensar que a Bruna deste o seu 18º dia até ao seu último teve uma vida muito feliz e uma familia linda e que a adorou sempre... Teve uma vida feliz, graças a ti e aos teus... Força ai amiga...

Nuno Miguel Melo Antunes said...

Tal como o Manuel diz a recordação fica essa já ninguem nos tira. Obrigado Lucia acho que é isso mesmo, no fundo foram 5092 dias de grande carinho de todos para com ela e dela para connosco, acredita que a Bruna deu sempre o seu máximo, sempre presente, sempre contente.
Perdi sem dúvida a minha grande amiga e companheira de grandes momentos, aquela que me entendia apenas de um simples olhar.
Preparo-me para juntar tudo o que houver da Bruna para a recordar todos os dias e sem excepção, vou montar um cartaz cheio de fotografias.
Obrigado Bruna por seres quem és e embora poucos me possam entender, tu eras dotada de uma magnifica personalidade, como eu vejo poucas pessoas no mundo possuir.
Obrigado mana pela atitude e coragem que demonstraste, sempre com ela e ao pé dela até ao último segundo.És uma autentica Guerreira.

Para a bruna apenas mais uma palavra:

AMO-TE

Nuno

Unknown said...

Adeus Bruna gostei muito de te conhecer.
Adeus


Tiago

Anonymous said...

De lagriminha no canto do olho... =( Beijo grande

Luna said...

the english version: =)

a goodbye for her...

It was a tuesday afternoon.

I was a little girl, with 1m30 height more or less. =)

I had just arrived from school and I was about to start playing (probably with my nenuco)

nuno turned off the phone.

- Inesita, let's see puppies and choose ours.

I jumped and ran to the door.

The trip was short. I don't exactly remember the place but I remember it was a small house, of a sort dark orange colour and with a small back yard.

The owner had a heavy face, beer belly and was dressing those flannel shirts with squares. In the head the hat was hiding his baldness, and only his lateral greyish hair could be seen.

He presented us Bela, a white and brown dog, tall and with a long snout. She was surrounded by her little puppies, seven I think.

My brother, while watching football, was just with one puppy in his arms. she was brown but with white socks. she could hardly see, but her 18 days old didn't prevented her from moving towards nuno in a very clumsy way, deciding her future right there.

We were not the only ones, there were 5 more choosing puppies.

I was with 3 puppies in my arms. =p

Bela, very thin and with her big eyes, was tired and weak, but still she didn't stop from being constantly looking out for her puppies while the people were grabbing them in their arms.

The man, on the contrary, didn't care much about the puppies... because of them his hunting partner was exhausted. If it wasn't for his wife, those kind of grandmother ladies with a cooking apron, he would have drowned them after their birth.

- Please take the dog today. - He begged.

We were not expecting to bring the dog so soon. She was so baby and so little that we even needed to buy special milk to "breastfeed" her.

My mother, who hadn't said the final "yes" yet, was caught by surprise. but as soon as she saw the little puppy, she got really moved:

- The puppy hardly sees, she's still so little. She won't resist.

But she did and still yesterday, 14 years later, she nimbly moved to the kitchen to ask for her morning snack, as she used to do every day. =)

She had a deep look and was our shadow if she saw us crying, using her snout to move away our arms and reach our face.
She used to snarl to anyone threatening to eat her food or to happily jump when we arrived. She was that kind of dogs that barked but didn't bite, with the exception to the ones that sit on her armchair. In that case, she could get really angry.

She didn't speak, but it was like she could every time she played or jumped...
every time she fanned her tail or deeply looked at us...
every time she tried to open the door with her paw or jumped to our bed during the night...
every time she dived into the sea or ran away from the waves...
every time she sit when we told her to or got really ashamed after doing something wrong...
every time she gave dog kisses with her tongue or called us with her paw…
every time she felled asleep in the end of the bed and moved herself while dreaming...

Bruna was not just our little dog, she was from the house, she was from the family, she is a part of us... as we are a part of her.


- Inês, you have only some seconds. - Said the veterinarian before leaving the room.

She was lying on the table, tired but with the deepest look ever, as she knew what was happening. I grabbed her paw and stayed there, with my face close to her snout:

- Sleep well Bruninha.

Anonymous said...

Muita gira a cadela :) ficam 14 anos de muito boas memórias!
Beijinho inês

Anonymous said...

Ta a fazer bonitos no céu ela =)

Nuno Miguel Melo Antunes said...

:O) A música é linda Inesita.

Thanks for one more moment

Nuno Miguel Melo Antunes said...

VIVA A BRUNA