Monday 2 February 2009

One sixteen

São especiais...

viagens de comboio, de descanso,
da semana que passou,
num caminho intercidades, algures.

As pessoas são muitas, dispersas, diferentes,
de mochila ou mala na mão,
carregadas ou mais leves,
altas ou baixas,
morenas ou de cabelos louros,
olhos escuros, outros verdes, azuis.

Um francês aqui, um alemão ali,
crioulo até,
polaco, flamengo talvez,
espanhol,
algo imperceptível.

Dão passos, vão apressados,
esperam ou perdem o comboio.

Há os corajosos, de interrail...
o lonely planet numa mão, o bilhete na outra,
o passaporte na boca, ás vezes.
Aventuram-se num Inverno europeu
e riem-se, nunca arrependidos.

Homens acompanhados,
raparigas em grupo,
crianças no corredor, inquietas,
alguém só.

Amigos em diálogo,
avós, pais e filhos,
a hospedeira do café.

Gente que se conhece,
que troca conversas à descoberta,
ou pede informações.

Os por si ouvem música, lêem um livro,
adormecem...
vão fechados consigo,
mergulhados no horizonte escurecido,
tela da noite que percorre as janelas.

Come-se bolachas, batatas fritas e maionese,
descascam-se laranjas que perfumam a carruagem.
Coca-cola e cerveja,
em golos pensativos,
entre comentários.

(Tiro fotos, escondida,
ao de leve, baixinho...
e eles continuam
sem ver, sem sentir,
continuam, apenas.)

Surgem-me abordagens, igualmente...
diálogos desconhecidos de desconhecidos,
conversas inesperadas, espontâneas,
pessoas num mesmo espírito,
encontros numa mesma viagem,
mas rumo diferente, vida alheia.

Fala-se de nada especial
ou de tudo e alguma coisa:
comboio cancelado, Istambul,
o filho bebé, as férias de trabalho,
ansiedades, saudades,
o irmão longe, a amiga que emigrou,
o vento que sopra, o sol desejado.

(a conversa flui, não há o que esconder...
é alguém sem perigo,
de hoje e hoje apenas,
amanhã recordação distante...
será presente…
será distante.)

De quando em vez o assunto termina
num fim temporário ou definitivo,
num fim de não mais histórias para contar,
num fim de uma partida singular,
despedida eterna
ou um improvável “Até...”.

E fica-se, depois, num desejo de mais...
de viagens, paisagens, comboios,
percursos mais longos, comigo,
mais longe.

Fica-se, depois, numa vontade de mais...
de diálogos de traseuntes,
incógnitos e incógnitas,
incertos, na hora certa.

Fica-se, depois, numa escrita de sentidos
à mesa de um café na Zuid Midi.
Palavras em fila, sem interrupção,
frases perdidas no verso de um mapa...
roteiro para a Volkstraat nº9.







2 comments:

Lucy said...

Amiga... Ainda te estou a dever um e-mail... Deixa só a minha vida acalmar um cadito, tenho estado em formação... Tenho saudades tuas =). Jinhu***

Dunguinha said...

Amei... =)