Saturday, 8 November 2008

aqui onde nasci

passeava eu pós lados vizinhos da Baixa, a subir e a descer nas ruas lá ao pé, á procura de um sítio que não encontrava. as ruas calçavam pedras pretas grandes, eram estreitas, tão estreitas que até com o meu lupinho duvidei passar. estavam peúgas e calças verdes, saias pretas e cuecas gigantes, ceroulas cinzentas e echarpes feitos de tricot pendurados nas janelas, arriscando serem levados. senhoras idosas à janela a observar os transeuntes, trocar cusquices, a falar sobre a ração do gato, a artrite do marido, e talvez novelas e revistas jet7. havia cheirinho a pão quente, a carne assada e até colónia de bebé. mini mercados com frutas em caixas a enfeitar as ruas. ouvia-se a telefonia aqui e ali a passar pimba, ás vezes pop, e senhores a discutir sobre a bola e a jogar ás cartas num café antigo, daqueles com azulejos velhos, mobília démodé e onde as cervejas se bebem com amendoins.
mas o melhor mesmo... o melhor mesmo foi ao atravessar uma ruinha perdida lá no labirinto. havia pouca gente a passar e no meio uma velhinha muito velhinha de avental e bengala, ajudada por uma senhora, talvez filha. estavam quase a atravessar a estrada quando pararam ao me aproximar, à espera que eu passasse com o carro. não passei para lhes dar a vez. elas atravessaram lentamente. já no fim, quase a chegar à calçada, a velhinha, contrariando o balanço da filha para continuar, virou-se para trás, encolheu os olhos por de trás dos óculos para enxergar melhor, esboçou um sorriso meigo, assim já meio desdentado:

- obrigada menina.

e continuou.

=)