...quase à meia noite, depois de comer um primi piatti seguido de um secondi piatti na casa do egídio, olhei para as horas, vi que era tarde, despedi-me, desci as escadas, peguei na bicicleta estacionada no hall de entrada, liguei as luzes, ajeitei o casaco, o cachecol e por fim as luvas, e lá fui para o lado oposto da cidade, tentado deslembrar o frio cortante que me enregelava a cara.
ouviam-se uns relâmpagos aqui e ali, mas a chuva era miudnha, sendo o caminho ainda fazível.
o "ainda" durou pouco, para ser mais precisa cerca de 2 minutos depois de deixar a casa, pelo que hoje acuso constipação e voz rouca.
não faz mal!
entrei de mansinho, despi o casaco, o cachecol, sequei o cabelo encharcado com uma toalha, desabotoei calças, tirei camisolas, vesti o pijama e mergulhei na cama.
adormeci.
acordei a meio da noite em susto com um céu atormentado, ora a cuspir luzes frenéticas e longas, ora a gritar graves tons que em criança apelidava de CABRUM CABRUM.
olhei a rua lá fora, novamente escurecida após os flashs de luz.
regressou então um período solitário, onde apenas se ouvia a chuva a bater ás janelas, a estalar nos telhados e a escorrer pelos vidros, desenhando linhas transparentes iluminadas por reflexos de luz.
adormeci de novo mas não por muito tempo porque o mesmo se sucedeu mais duas ou três vezes.
pela manhã acordei por mim, sem despertador, com o céu ainda escurecido, calmo e com raios de sol já levemente a romper no fundo da paisagem, por entre escuras nuvens nubladas.
vesti-me, agasalhei-me, ajeitei o casaco, comi o resto do iogurte do dia anterior, vesti as luvas, calçei os ténis, procurei as chaves e guardei umas bolachas água e sal para o caminho.
depois, como hoje é dia de boleia, fui de carro para a estação.
cheguei mais cedo que o comboio, esqueci as bolachas, tirei o livro, encostei-me ao corrimão horizontal que acompanha parte da plataforma e pus-me a ler.
não havia muita gente hoje, estranhamente, pelo que nem me preocupei em chegar-me à linha para depois ter lugar sentada.
quando cheguei a delft o sol já brilhava forte, ainda que rodeado por manchas de vapor de quando em quando.
decidi dar descanso à bicla e ir a pé.
como tenho muita sorte neste tipo de ocasiões, começou a chover durante a caminhada. pus o capucho e continuei. contudo, o cair das gotas abrandou pouco depois, tornou-se leve e agradável, tão agradável que até deu prazer aliviar a cabeça da carapuça impermeável e mirar o arco íris que se alçava no horizonte urbano do canal.
continuei por entre caminhos de árvores, folhas amarelas e vermelhas espalhadas pelo chão, calçadas verdejantes.
encontrei um cãozinho pequeno, ainda bebé. era lindo. meiguinho e mimado, dai ter vindo de logo ao meu encontro quando, já de cócoras, lhe estendi a mão.
- ohhh, so beautiful. how old is he?
- 3 months now.
(o senhor era de meia idade, mas tinha um ar desgastado, pele pálida e pouco cabelo branco, do estilo tio-avô careca, enrolado num cachecol e casacos)
- can I take him a picture?
(ele deu um sorriso... bem talvez mais um riso que um sorriso. talvez uma mistura dos dois.)
- of course, of course!
- oh, he doesn't stop moving.
- wait.
let me take one with you. (disse o dono)
-oh, it's not necessary really.
(ele insistiu)
- no no, you took a picture to my dog so you deserve one with him.
agora estou aqui à frente do computador, com gráficos para analisar, balanços para fazer, data para tratar.
não me apetece nada. é sexta feira e o fim-de-semana vai ser francês, estando a atenção mais virada para ruas de terras mais a sul, alheias ao corredor do meu laboratório.
enfim...
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1 comment:
:-)
Andas com uma escrita bem catita!
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