Thursday 23 October 2008

blablabla

quando era miúda sempre gostei do Sr. José Rodrigues dos Santos. na altura não ligava muito ás noticias mas ele parecia ser bom jornalista, sabia falar, o tom de voz era agradável, tinha umas saídas cómicas que eu não entendia e um olhar simpático e cúmplice para com os espectadores, como se estivesse num café a dizer algo sério a um grupo de amigos. contudo devo dizer, e aliás nota-se, que o senhor é um bocadinho cheio de si.

mas pronto, gosto dele e gostei especialmente de um aparte que ele certa vez fez no telejornal, aquando de uma noticia sobre um pivô que, após umas belas ferias, voltou ao trabalho de bigodinho. ao que parece o bigode era tão peculiar que levou a um sem número de chamadas do público durante a primeira parte do telejornal, na sua grande maioria a falar mal. o pobre do homem lá apareceu na segunda parte já sem o dito cujo.
não me lembro exatamente como foi o aparte do Sr. José, mas foi algo do género: "pois, para alguns é o bigode, para outros as orelhas." =p

além disso gosto dos seus romances. ele escreve bem que se farta e as histórias estão regadas de factos históricos, adaptações de relatos vividos na primeira pessoa e descrições de sítios que existem de facto. depois há sempre a novela no meio que o povinho tanto gosta, misturada com palavras caras e/ou antigas mas ditas de forma quotidiana, comum e ás vezes até num tom calão.

enfim... tudo isto para falar de um excerto do Codex 632, um romance sobre os Descobrimentos e Colombo. nesta história um historiador, Tomás Noronha, envolve-se com uma aluna de erasmus sueca, sendo que a esposa, depois de descobrir a traição do marido, decide deixá-lo e, juntamente com a filha, muda-se para casa dos pais. o historiador passa então a só estar com a filha aos fins-de-semana, pelo que no primeiro encontro com a pequena tenta saber o máximo acerca da mulher e das conversas dela com a sogra sobre o marido infiel. ora aqui vai o diálogo:

"A mãe está mesmo chateada contigo papá", confirmou-lhe Margarida. "Fa'ta-se de cho'a', diz que és um pulha." Franziu o sobrolho. ''Ó papá, o que é um pulha?"
"'É alguém que se porta mal."
"Tu po'taste-te mal foi?"
Tomás suspirou, desalentado.
"Sim, filha."
"O que fizeste?"
"Olha, não comi a papa toda."
"Ah", exclamou a pequena, meditando sobre a gravidade de tal crime. "Estás de castigo é"?
"É isso. Estou de castigo."
"Coitadinho. Tens de papa' tudo."
"Pois é. E que mais diz a tua mãe?"
"Que és um ca'vão.'
'Um carvão?'
"Sim um ca'vão."
"Ah, um cabrão."
"Pois, um g'andessíssimo ca'vão. e a avó disse-lhe pa'a i' fala' com um advogado amigo dela."
"Um advogado?"
"Pois, diz a avó que ele é muito bom, vai-te da' cabo do canast'o."

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